Olinda está acordada há mais de meia hora. Chamou por duas vezes pela ajudante de lar que, a essa hora, já a deveria ter ajudado a vestir. Os seus 93 anos pesam-lhe os movimentos e ela não tem tempo. É hora do pequeno-almoço e, na outra ala do lar, o seu filho deve estar preocupado com a demora. Ali é a sua casa há mais de 8 anos. Dos dois. Quando o filho, aos 60 anos, teve o AVC que lhe matou o lado direito do corpo e o emudeceu, foi ela que passou a prestar-lhe todos os (...)
Eu já sabia. Da leitura técnica. Da observação empírica. Mas ouvido na primeira pessoa tem sempre outro impacto. Há uns anos, co-organizei um seminário sobre envelhecimento activo. Na discussão sobre os oradores a convidar, alguém sugeriu um médico octogenário, que ainda exercia. Ele veio. Cheio de sentido de humor, explicou a dificuldade em levantar-se todas as manhãs. Uma dor aqui, um músculo preso acolá, uma articulação a estalar...mas levantava-se. Há muito que (...)
E o que dizer quando o teu marido vai a um centro comercial e te envia esta foto pelo Whatsapp com a legenda “Olha nós”? Sim, já somos nós nos meus sonhos de velhice. Eu continuarei a ocupar os serões entre agulhas e a máquina de costura e tu vais adormecer no sofá a ver as tuas séries preferidas. Quando acordares, aconchegas-me com uma mantinha porque sabes que viro fera quando sou acordada durante o primeiro sono. Vais ficar a olhar para a minhas rugas e a ler a (...)