Uma bola e duas rodas
Mais um jovem futebolista tombou em campo, este fim-de-semana.
Morreu sem causa aparente.
Assim, como se a morte fosse um a bola invisível que se rematasse para o centro da baliza da vida e gritasse golo.
O meu filho joga futebol e é inevitável sentir um aperto no peito sempre que me deparo com notícias destas.
Cada vez mais, sempre que ele aterra no relvado, o terror chuta-me estas imagens e faz-me acelerar o ritmo cardíaco.
Sabem lá a vontade que eu tenho, quando o vejo mais cansado, de entrar no campo, puxá-lo para fora e enroscá-lo no meu colo! Cobri-lo com amor de mãe e rosnar a qualquer perigo que se aproxime!
Mais ou menos pela altura em que eu nasci, um menino aqui da terra aprendia a andar de bicicleta.
No desequilíbrio normal da aprendizagem, caiu, bateu com a cabeça no lancil e teve morte imediata.
Estas desgraças devassam uma comunidade inteira. Para além da morte de uma criança nos primeiros anos de vida, é a evidência de que estes acidentes podem acontecer a qualquer um. Ou melhor, podem acontecer-nos a nós.
Alguns pais convivem melhor com estes medos do que outros.
Enquanto os meus amigos ganhavam bicicletas nos anos ou aprendiam a equilibrar-se nas bicicletas uns dos outros, eu fiquei proibida. Era perigoso. Era mortal!
E é assim que carrego, há 47 anos, a mágoa de não saber andar de bicicleta.
Por muito que me esforce para engolir o maior medo do mundo, não hei-de fazer isto ao meu filho!