Velhinho. Moribundo. Desamado.
Chegara até aqui sem nunca perceber como é que o tempo se media.
Os homens, que o domaram em horas, dias e anos, ainda não arranjaram uma única medida para que uma hora seja apenas uma hora. Para uns, é tempo que voa. Para outros, uma verdadeira eternidade.
O que é certo é que agora, velhinho, assentiu que o seu tempo estava prestes a terminar. Viveu a querer ser rei. Importante, inesquecível, deslumbrado com a fama. Estava certo de que, doravante, geração alguma haveria de o ignorar. Fez história.
Sem glória, percebia agora. Moribundo. Um dia, uma hora, não são nada. O fim apressa o tempo, concluiu.
Estava só. Aprendeu que a fama não faz companhia aos moribundos.
Haveria de ser lembrado por séculos. O seu nome seria pronunciado por todas as ciências. Seria estudado, investigado... mas o que é facto é que estava a morrer só. Desamado.
"Mais vale ser amado por poucos do que conhecido por muitos", sentenciou, embora já ninguém se importasse com o que dizia.
Lá fora, todos aguardavam aquele jovem que vinha chegando a medo e de mansinho.
Cá dentro, velhinho, moribundo e desamado, o sr. Dois Mil e Vinte morria sozinho!