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A 3ª face

Qui | 31.12.20

Velhinho. Moribundo. Desamado.

 

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Chegara até aqui sem nunca perceber como é que o tempo se media.

Os homens, que o domaram em horas, dias e anos, ainda não arranjaram uma única medida para que uma hora seja apenas uma hora. Para uns, é tempo que voa. Para outros, uma verdadeira eternidade.

O que é certo é que agora, velhinho, assentiu que o seu tempo estava prestes a terminar. Viveu a querer ser rei. Importante, inesquecível, deslumbrado com a fama. Estava certo de que, doravante, geração alguma haveria de o ignorar. Fez história. 

 

Sem glória, percebia agora. Moribundo. Um dia, uma hora, não são nada. O fim apressa o tempo, concluiu.

 

Estava só. Aprendeu que a fama não faz companhia aos moribundos.

Haveria de ser lembrado por séculos. O seu nome seria pronunciado por todas as ciências. Seria estudado, investigado... mas o que é facto é que estava a morrer só. Desamado.

"Mais vale ser amado por poucos do que conhecido por muitos", sentenciou, embora já ninguém se importasse com o que dizia.

Lá fora, todos aguardavam aquele jovem que vinha chegando a medo e de mansinho.

Cá dentro, velhinho, moribundo e desamado, o sr. Dois Mil e Vinte morria sozinho!

 

 

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